Poluição da água: causas e consequências

Poluição da água: causas e consequências

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Quando falamos em água, é comum pensarmos apenas em desperdício.

No entanto, o problema da sua poluição no mundo é tão grave quanto o uso indiscriminado, com consequências severas para ecossistemas e para os seres vivos, que dependem da água – inclusive nós.

Não é apenas destinada ao consumo humano direto por ingestão, mas também para diversos usos domésticos, industriais, conservação da flora, irrigação, dessedentação de animais, piscicultura, lazer, geração de energia elétrica, dissolução de resíduos industriais, sanitários, transporte, etc.

A poluição hídrica é qualquer alteração nas características físicas, químicas e/ou biológicas das águas, que possa constituir prejuízo à saúde, à segurança e ao bem estar da população e, ainda, possa comprometer a fauna ictiológica e a utilização das águas para fins recreativos, comerciais, industriais e de geração de energia. E estudá-la será o principal foco deste artigo.

O problema já é recorrente e deve aumentar. Um levantamento feito pela Comissão Mundial de Águas mostrou que os 500 maiores rios do planeta já enfrentam problemas com a poluição.

De acordo com um estudo feito pela ONG Food and Water Watch, cidades com mais de 3,5 bilhões de habitantes vão enfrentar problemas de abastecimento de água, já em 2025, como consequência da poluição dos rios.

A poluição dos corpos d’água é causada pelo lançamento indiscriminado de águas residuárias (esgotos ou efluentes industriais), sem tratamento ou parcialmente tratados.

Os inconvenientes gerados podem causar efeitos adversos aos usos benéficos das águas.

Esta poluição é função das alterações da qualidade ocasionadas no corpo receptor, além das implicações relativas às limitações aos usos da água.

Mas quais são as principais fontes de poluição?

1) Fontes naturais intemperismo: (dissolução de minerais e de vegetação, lixiviação); escoamento superficial, poluição atmosférica (queimadas e erupções vulcânicas);

2) Atividade antropogênica: poluição atmosférica; águas de áreas agrícolas (fertilizantes e pesticidas); águas residuárias (esgotos ou industriais); escoamento superficial nos grandes centros urbanos.

3) Fontes diversas:
  • Áreas de Mineração: problemas de percolação
  • Áreas de influência de aterros sanitários: problemas de lixiviação
  • Reservatórios de acumulação: problemas de eutrofização.
    Figura 1. Na imagem abaixo, ilustra-se resumidamente estas fontes

 

Qualidade do corpo receptor

A qualidade de um corpo receptor reflete, naturalmente seu estágio de poluição.

Esse estágio de poluição é classificado em:

1) Primeiro estágio (Poluição Patogênica):

Neste estágio, as exigências quanto à qualidade da água são relativamente pequenas, tornando-se mais freqüentes as enfermidades veiculadas pela água.

O uso de estações de tratamento de água e sistemas de distribuição convencionais podem prevenir os problemas sanitários decorrentes desse estágio de poluição.

2) Segundo estágio (Poluição Total):

Este estágio é definido como aquele em que os corpos receptores se tornam severamente afetados pela carga poluente que recebem (essa carga é usualmente expressa em termos de sólidos em suspensão e demanda – ou consumo potencial – de oxigênio).

Embora nesse estágio a qualidade do corpo receptor já esteja comprometida, os prejuízos à saúde pública podem ser reduzidos se existirem estações de tratamento de água e esgoto eficientes.

Esse estágio de poluição ocorre normalmente durante o desenvolvimento industrial e o crescimento das áreas urbanas.

Neste caso, a tecnologia de tratamento empregada tem, portanto, um caráter mais curativo que preventivo.

Somente investimentos maciços podem resolver situações como essa.

3) Terceiro estágio (Poluição Química):

Este é um estágio que só recentemente está sendo detectado. É o estágio da poluição insidiosa, causada pelo excessivo uso da água.

Este aumento de consumo decorre não somente pelo o aumento da demanda proveniente do crescimento populacional e industrial, mas também pelo desperdício.

A cada dia cresce o volume de água retirada dos cursos d’água e cresce também a diversidade da carga poluente neles descarregada.

Com a maior freqüência de re-utilização dessas águas, surgem problemas decorrentes da natureza das espécies químicas nelas dissolvidas, as quais podem tornar essas águas impróprias para o consumo, a menos que sejam adotados processos de tratamentos mais sofisticados e, por conseguinte, de custos mais elevados.

Tais águas, por exemplo, poderão conter apenas traços de compostos orgânicos que, não obstante, poderão acarretar sérios problemas de gosto e/ou odor ou até mesmo outros problemas ainda mais nocivos à saúde pública.

Classificação dos poluentes

1) Quanto à natureza:

Os diversos componentes presentes na água, e que alteram o seu grau de pureza, podem ser retratada, de uma maneira ampla e simplificada, em termos das suas características físicas, químicas e biológicas. Estas características podem ser traduzidas na forma de parâmetros de qualidade da água e, em seguida, dos esgotos.

Físicos: sólidos em suspensão, sedimentáveis, temperatura;

Características físicas: As impurezas, do ponto de vista físico, estão associadas, em sua maior parte, aos sólidos presentes na água. Estes sólidos podem ser em suspensão, sedimentáveis, coloidais ou dissolvidos, dependendo do seu tamanho.

Químicos: compostos orgânicos, inorgânicos, radioativos; Compostos orgânicos sintéticos; (derivados do petróleo), metais pesados, fertilizantes, substâncias tóxicas, refratárias, nutrientes, substâncias que consomem o OD

Biológicos: bactérias, protozoários, vírus, fungos, organismos patogênicos.

Bactérias: organismos monera unicelulares; apresentam-se em várias formas e tamanhos; são os principais responsáveis pela estabilização da matéria orgânica (decompositores); algumas bactérias são patogênicas, causando principalmente doenças intestinais.

Algas: organismos autotróficos, fotossintetizantes, contendo clorofila; importantes na produção de oxigênio nos corpos d’água e em alguns processos de tratamento de esgotos; em lagos e represas, podem proliferar em excesso, causando deterioração da qualidade da água.

Fungos: organismos aeróbios, multicelulares, não fotossintéticos; de grande importância na decomposição da matéria orgânica; podem crescer em condições de baixo pH.

Protozoários: organismos unicelulares sem parede celular; a maioria é aeróbia ou facultativa; alimentam-se de bactérias, algas e outros microrganismos; são essenciais no tratamento biológico para a manutenção de um equilíbrio entre os diversos grupos; alguns são patogênicos.

Vírus: organismos parasitas, formados pela associação de material genético (DNA ou RNA) e uma carapaça protéica; causam doenças e podem ser de difícil remoção no tratamento da água ou do esgoto.

Helmintos: animais superiores; ovos de helmintos presentes nos esgotos podem causar doenças.

2) Quanto à forma:

Sólidos: areia, cascalho, argila, cinzas, escória, lodo, lixo, etc.;

Líquidos: esgotos sanitários, industriais, pluviais, lixiviados de áreas agrícolas e de aterros;

Gasosos: emitidos para a atmosfera, eventualmente retornando às coleções hídricas.

3) Quanto ao tipo em geral:

Substâncias tóxicas: que afetam a saúde ou a qualidade organoléptica; substâncias que consomem oxigênio; nutrientes; matéria sólida; organismos transmissores de doenças; substâncias radioativas; calor.

Na tabela a seguir, temos os principais poluentes e suas consequências.

            Tabela 1. Efeito dos Esgotos: tipos de poluentes e conseqüências
Poluentes Parâmetros de

caracterização

Tipo de efluente Conseqüências
 

Sólidos em suspensão

 

Sólidos em suspensão totais

 

Domésticos Industriais

Problemas estéticos

Depósitos de lodo

Adsorção de poluentes

Proteção de patogênicos

Sólidos flutuantes Óleos e graxas Domésticos Industriais Problemas estéticos
Matéria orgânica biodegradável Demanda bioquímica de oxigênio (DBO) Domésticos Industriais Consumo de oxigênio Mortandade de peixes Condições sépticas
Patogênicos Coliformes Domésticos Doenças de veiculação hídrica
 

Nutrientes

Nitrogênio Fósforo Domésticos Industriais Crescimento excessivo de algas

Toxicidade aos peixes

Doença em recém-nascidos (nitratos) metemoglobinemia infantil

 

Compostos não biodegradáveis

 

Pesticidas Detergentes Outros

 

Industriais Agrícolas

Toxicidade Espumas

Redução de transferência de oxigênio

Não biodegradabilidade

Maus odores

 

 

Metais pesados

 

Elementos específicos (ex: arsênio, cádmio, cromo, mercúrio, zinco, etc.).

 

 

Industriais

Toxicidade

Inibição do tratamento biológico dos esgotos

Problemas de disposição do lodo na agricultura

Contaminação da água subterrânea

 

Sólidos inorgânicos dissolvidos

 

Sólidos dissolvidos totais Condutividade elétrica

 

 Reutilizados

Salinidade excessiva – prejuízo às plantações (irrigação)

Toxicidade a plantas (alguns íons)

Problemas de permeabilidade do solo (sódio)

Tendo em vista o apresentado, percebe-se que a poluição dos sistemas hídricos é um problema de toda sociedade.

E se esta sociedade pretende possuir água potável que possa ser consumida no futuro, deve acima de tudo rever suas atividades, sejam elas domésticas, comerciais ou industriais, pois todas possuem implicações que acabam diretamente ou indiretamente degradando os mananciais hídricos disponíveis.

Atualmente existem instrumentos dos mais diversos tipos para controle e gerenciamento da poluição hídrica.

Assim que a poluição dos corpos d’água começou a ser percebida e sentida, tais instrumentos, tanto técnicos como legais foram desenvolvidos, e evoluíram ao longo dos anos.

Hoje se pode avaliar com precisão o dano de um despejo industrial em um rio ou em um lago, seja por métodos analíticos ou por modelos matemáticos, porém a aplicação dos instrumentos legais deixa a desejar, e não é por falta de leis, normas e resoluções, mas sim por falta de controle e fiscalização das atividades potencialmente poluidoras, por parte dos órgãos responsáveis.

Portanto, a única maneira de resolver o problema da poluição é o desenvolvimento de políticas e programas de conscientização, tanto do poder público como da iniciativa privada, que esclareça que a água é um recurso renovável, porém finito e cada vez mais escasso.

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