Desvendando os segredos do Lodo Ativado: como usar a respirometria para avaliações primárias com precisão

Desvendando os segredos do Lodo Ativado: como usar a respirometria para avaliações primárias com precisão

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O processo de lodo ativado é amplamente utilizado no tratamento biológico de efluentes devido à sua eficiência na remoção de matéria orgânica e nutrientes.

Uma avaliação detalhada do desempenho desse processo pode ser realizada utilizando ensaios de respirometria para monitorar a taxa de consumo de oxigênio (OUR – Oxygen Uptake Rate) e determinar o fator de carga.

Mas continue acompanhando para entender cada terminologia e como a respirometria é uma ferramenta fantástica para o monitoramento do processo de lodos ativados.

1. Importância do Processo de Lodo Ativado

O lodo ativado consiste em uma comunidade microbiológica que degrada a matéria orgânica e, em algumas configurações, remove nutrientes como nitrogênio e fósforo. Para garantir a eficiência do processo, é fundamental avaliar:

  • A atividade microbiológica;
  • A capacidade de tratamento em relação à carga de matéria orgânica;
  • A estabilidade operacional, especialmente em sistemas sujeitos a variações de carga.

2. Ensaios de Respirometria no Lodo Ativado

Os ensaios de respirometria são ferramentas poderosas para monitorar a atividade microbiológica no lodo ativado.

Eles medem a quantidade de oxigênio consumido pelos microrganismos durante a degradação da matéria orgânica.

2.1. O Que é o OUR?
  • OUR (Oxygen Uptake Rate) representa a taxa de consumo de oxigênio pelos microrganismos presentes no lodo ativado;
  • É expresso em mg O₂/L/h e reflete diretamente a atividade biológica no sistema.
2.2. Por Que Medir o OUR?
  • Avaliar a biodegradabilidade do efluente;
  • Monitorar o impacto de condições tóxicas ou inibidoras;
  • Determinar a demanda de oxigênio dissolvido para controle operacional.

3. Fator de Carga (FC)

O fator de carga (FC) é uma métrica usada em processos biológicos, como o tratamento de efluentes por lodos ativados, para avaliar a relação entre a atividade microbiológica sob diferentes condições.

Ele fornece insights valiosos sobre a eficiência do processo e ajuda os operadores a identificar e corrigir problemas de forma proativa.

Utilizado em conjunto com outros indicadores, como o F/M e a taxa de respiração específica, o FC é um componente indispensável na gestão eficiente de sistemas biológicos de tratamento de efluentes.

Especificamente, é calculado como a relação entre o consumo de oxigênio sob condições alimentadas (FED OUR) e não alimentadas (UNFED OUR).

Essa métrica é expressa como:

our

3.1. O Que Representam FED OUR e UNFED OUR?

FED OUR (Oxygen Uptake Rate em Condição Alimentada):

  • Refere-se à taxa de consumo de oxigênio dos microrganismos quando há matéria orgânica disponível no sistema;
  • Representa a atividade respiratória total, que inclui:
    A respiração basal (manutenção da célula);
    A respiração gerada pela degradação da matéria orgânica.

UNFED OUR (Oxygen Uptake Rate em Condição Não Alimentada):

  • Refere-se à taxa de consumo de oxigênio dos microrganismos na ausência de matéria orgânica disponível;
  • Representa apenas a respiração basal, ou seja, o consumo de oxigênio necessário para a manutenção metabólica das células.
3.2. Interpretação do Fator de Carga (FC)
  • O FC quantifica a proporção de oxigênio consumido devido à biodegradação de matéria orgânica em relação ao consumo basal;
  • Um FC elevado indica alta disponibilidade de substrato (matéria orgânica), sugerindo que os microrganismos estão metabolicamente ativos na degradação do efluente;
  • Um FC baixo pode indicar:
    • Escassez de matéria orgânica no sistema;
    • Condições de limitação de substrato;
    • Potencial inibição microbiológica.
fator de carga
Ron Sharman – Water and Wastewater Technology, LBCC
3.3. Concentração de Biomassa Ativa da Respiração Endógena 

X = 24 * OURend / (fcv * b) 

X (mg/L): concentração de biomassa heterotrófica ativa
OURend (mg/L.h): Taxa de respiração endógena de biomassa heterotrófica
fCV (O2 / XH): Demanda de oxigênio por unidade de biomassa heterotrófica = 1,42
b (d-1): Taxa de degradação da biomassa heterotrófica na respiração endógena = 0,24. 1,04 (t-20 

 Faixa de valores típicos de X: 15 a 25% de SSVLM 

faixa OUR
Guia para a faixa de valores de OUR endógeno (OURend) vs SSVLM de lodo ativado Fonte: Respirometry for Environmental Science and Engineering – James G. Young & Robert M. Cowan
3.4. Causas para as quais o valor da concentração de biomassa ativa (X) está abaixo do normal 
  • Carga de mássica excessivamente baixa;
  • DQO rapidamente biodegradável muito baixa (<15% da COD) e / ou lentamente biodegradável muito alta COD (> 75% da DQO);
  • As condições atuais (T, OD, pH) do processo não permitem o desenvolvimento de sua plena atividade, podendo afetar a reprodução normal da biomassa;
  • Deficiência de nutrientes;
  • Alguma toxina pode ter eliminado uma porcentagem significativa da biomassa ativa (ou a está eliminando).
3.5. Análise de toxicidade de respiração endógena
  • O objetivo desta análise é saber qual o percentual de redução da biomassa ativa que uma possível toxina foi capaz de causar na condição de respiração endógena;
  • A análise é realizada com o lodo de respiração endógena utilizado nos testes de toxicidade global, aquele preparado com uma amostra de água residual versus a de referência;
  • Esta análise é realizada por meio de dois ensaios de tipo OUR para comparar a atividade de ambos os lodos, preparadas por um tempo superior a 24 horas;
  • A diferença de declives na seção final de cada respirograma indicaria o nível de inibição causado pela toxicidade e, portanto, a % de biomassa desativada.
    toxicidade
    A diferença nas inclinações na seção final de cada respirograma indicaria o nível de inibição causada pela toxicidade e, portanto, a % de biomassa desativada.
3.6. Importância e Aplicações do FC

O cálculo do FC é uma ferramenta poderosa no controle e monitoramento de sistemas biológicos de tratamento.

Aqui estão as principais aplicações:

Otimização de Operação:

  • Permite ajustar a carga orgânica aplicada ao sistema para evitar sobrecarga ou subutilização;
  • Garante que o sistema esteja operando na faixa ideal de eficiência.

Monitoramento da Atividade Microbiológica:

  • Avalia a saúde e a eficiência da biomassa ativa;
  • Detecta condições de estresse ou inibição microbiológica causadas por compostos tóxicos.

Controle de Aeração:

  • Dados de FC ajudam a otimizar a aeração, reduzindo custos energéticos e garantindo níveis adequados de oxigênio dissolvido.

Diagnóstico de Problemas Operacionais:

Um FC consistentemente baixo pode indicar problemas como:

      • Baixa qualidade do substrato;
      • Presença de toxicidade no afluente;
      • Acúmulo de biomassa envelhecida ou inativa.

Ajuste do F/M (Food-to-Microorganism Ratio):

    • O FC fornece informações complementares ao cálculo do fator de carga orgânica (F/M), ajudando a balancear a relação entre carga orgânica e biomassa.

4. Metodologia para Determinar o Fator de Carga Usando OUR

A aplicação da respirometria para calcular o fator de carga envolve os seguintes passos:

4.1. Coleta e Preparação de Amostras
  • Amostras de lodo ativado e efluente são coletadas no sistema;
  • O oxigênio dissolvido (OD) inicial é medido e registrado.
4.2. Medição do OUR
  • O ensaio de OUR é realizado em condições controladas de temperatura e agitação;
  • A variação no OD é monitorada ao longo do tempo, gerando uma curva de consumo de oxigênio.
4.3. Determinação da Taxa de Respiração
  • A inclinação da curva de OD fornece o OUR (mg O₂/L/h);
  • Essa taxa reflete a quantidade de matéria orgânica biodegradável disponível para os microrganismos.
4.4. Cálculo do Fator de Carga
  • Com o OUR determinado, os valores de F/M são ajustados para otimizar a operação do sistema.

5. Benefícios da Avaliação do Fator de Carga com Ensaios de Respirometria

  • Otimização do Uso de Oxigênio: Reduz custos de aeração ao ajustar o OD necessário para atender à carga real;
  • Monitoramento de Toxidade: Identifica efeitos inibidores que impactam a atividade microbiológica;
  • Controle Operacional: Ajusta parâmetros operacionais como idade do lodo (IL), sólidos em suspensão (MLSS) e taxa de recirculação;
  • Prevenção de Sobrecarga ou Subutilização: Garante que o sistema opere dentro de sua capacidade ideal.

6. Pontos Críticos no Uso da Respirometria

  • Calibração dos Equipamentos: Ensaios de respirometria exigem equipamentos bem calibrados para obter dados confiáveis;
  • Interferência de Condições Ambientais: pH, temperatura e a presença de toxicidade podem afetar os resultados;
  • Interpretação dos Dados: É essencial que os operadores estejam treinados para interpretar corretamente os resultados e aplicar as correções necessárias.

Agora me conta aqui o que achou dessa ferramenta para o monitoramento do seu processo de lodo ativado.

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Traduzido e adaptado de: Surcis

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